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Andreilto Almeida: “Pra onde ia o dinheiro desse país?”‏


“É muita roubalheira, todo dia é uma notícia nova de alguém que roubou nesse governo…”.

Já me preparava para, mais uma vez, fazer a defesa do projeto político que defendo e, que acredito ainda ser o melhor para o Brasil.

Dessa vez a crítica vinha de um velho amigo e senhor; figura querida e a muito conhecida, que sempre me faz gastar alguns minutos para ouvir seus proveitosos conselhos. Antes que eu iniciasse os argumentos de defesa, ele, do alto dos seus quase oitenta anos, continuou sua exposição. Idade é posto. Não ousei interromper.

“Meu filho, é muito roubo nesse governo, todo dia vejo no jornal a polícia prendendo mais um que roubou”… – pausa para procurar as palavras certas, típico de gente que pensa bem no que vai dizer. – “e mesmo assim o governo tem dado tanta casa a esse povo, tem bolsa família, tem faculdade… De onde vem tanto dinheiro? E quando não tinha tanto roubo e o governo não olhava pra os pobres, quando não tinha tanta casa nem bolsa família, pra onde ia o dinheiro desse país?”.

Mais de uma vez reformulei as respostas que havia pensado, em vão, elas não haveriam de servir. Considerei que seria uma ofensa tentar responder, de maneira vaga, ou fazer palanque, daquela bela pergunta retórica com a qual meu amigo me presenteara. Não seria eu quem iria dar aula de história para alguém que acabara de formular um pensamento carregado de uma lógica que hoje vejo ausente em tantos intelectuais.

“Não sei, meu amigo. Não sei.” – Sussurrei.

Não pense o amigo leitor, que não vi indignação nos semblante idoso do meu amigo; ou que eu mesmo, quando ensaio minhas defesas, abro mão do direito de me indignar com as atrocidades cometidas por tantos canalhas contra o suor e a esperança das pessoas de bem desse nosso país. Pois a cada novo escândalo descoberto, junto com os milhões roubados vai-se embora parte da esperança do país justo que sonhamos. O fato, é que minha indignação talvez tenha um alcance maior; talvez, do tamanho da dúvida levantada pelo meu amigo; talvez, do tamanho e da dimensão dos anos de impunidade que beneficiaram tantos “amigos dos reis”.

“Pra onde ia o dinheiro desse país?”

Para minha família não foi. Pois mesmo com o trabalho árduo dos meus pais e irmãos mais velhos, as privações sempre nos foram desagradáveis companhias, naqueles anos difíceis. Como acredito que também foi para a maioria das famílias brasileiras. “Pra onde ia o dinheiro desse país?”

Se ia para as famílias daqueles meus amigos mais abastados, ele ainda continua por lá; pois não vi ninguém se tornar menos rico nesses anos em que, graças a Deus, tantos se tornaram menos pobres. 

“Pra onde ia o dinheiro desse país?”

Não ouso responder. Antes, divido com o leitor o presente que recebi. E torço para que, junto com dinheiro, nosso país distribua justiça na medida em que cada um merece: cadeia para os bandidos, atenção para os pobres, justiça para todos.

Andreilto Almeida é Professor. Nasceu na cidade de Senhor do Bonfim, em 1970. Formado em pedagogia pela UNEB – Campus VII. É suplente de vereador pelo PCdoB ​ em Senhor do Bonfim​.

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