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Debates sobre produção irrigada reuniram 400 especialistas no Submédio São Francisco‏

Foto: Divulgação / Codevasf

Irrigação subterrânea, direitos e deveres do engenheiro agrícola e experiências em agroecologia ambiental foram alguns dos temas discutidos ao longo dos três dias do III Workshop em Irrigação e do IV Simpósio de Engenharia Agrícola – realizado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o Instituto Federal do Sertão Pernambucano, em Juazeiro (BA).

O objetivo do evento, que termina nesta terça-feira (21), foi apresentar e discutir novas tecnologias voltadas para equipamentos de irrigação, integrando universidade, empresas do setor e produtores rurais, além de discutir a atuação do engenheiro agrícola no mercado de trabalho. Cerca de 400 pessoas participaram dos três dias do evento, que contou com a participação de palestrantes oriundos de diversas regiões do Brasil e também de outros países, como Espanha e Israel.

“Esse é o espaço pra gente discutir sobre irrigação e avançar cada vez mais. A universidade é um local para absorver demandas da sociedade, desenvolver pesquisas e dar respostas, além de formar profissionais para atuar nesse campo”, destacou o professor Helder Ribeiro Freitas, representante da reitoria da Univasf.

O superintendente da Codevasf em Juazeiro, Alaôr Grangeon de Siqueira, agradeceu a parceria com a Univasf. “A Codevasf, como propulsora da irrigação aqui do nosso semiárido, instalou o primeiro perímetro de irrigação há mais de 40 anos e não poderia deixar de comparecer e de dar sua colaboração neste evento que é tão importante para o semiárido brasileiro”, disse.

Para o professor Luiz Fernando Campestre, que representou a reitoria do IF Sertão Pernambucano, o semiárido nordestino é uma terra de oportunidades no que diz respeito ao agronegócio e a agricultura irrigada. “Oitenta e cinco por cento de toda a área territorial do nordeste é feita pelo semiárido e pouco menos de 5 % é agricultura irrigada, então com o agronegócio o semiárido nordestino passa obrigatoriamente pela irrigação, ou seja, a irrigação é o grande propulsor do agronegócio do nordeste e do Brasil e esse evento aqui trata exatamente sobre isso”, ressaltou.

Segundo o secretário Nacional de Irrigação, do Ministério da Integração Nacional (MI), Guilherme Ferreira da Costa, esse tipo de evento é enriquecedor, pois estreita as relações entre a instituição federal e os irrigantes. “A aproximação em eventos como esse é extremamente enriquecedora. Através de encontros e aprofundamento no contato, principalmente com irrigantes, da forma mais ampla possível, vamos conseguir melhorar nossa atuação na irrigação. Que o órgão federal possa se aproximar mais dos irrigantes de uma forma mais transparente, mais objetiva”, salientou.

O secretário informou que a regulamentação do marco legal da Política Nacional de Irrigação deve ser entregue ao MI no dia 28 deste mês. “Estou na Secretaria Nacional de Irrigação há quatro meses e desenvolvemos algumas ações que eram importantes e precisavam ser feitas, como a regulamentação da lei 12.787/2013, que institui a Política Nacional de Irrigação, que vem diminuir muitos entraves, mesmo com a lei em vigência. Vamos submeter essa regulamentação aos órgãos que são afetos ao próprio ministério e a casa civil”, explicou.

A Política Nacional de Irrigação pretende incentivar a ampliação da área irrigada no país, aumentar a produtividade e promover o aumento da competitividade do agronegócio. Além disso, incentiva a formação e a capacitação de recursos humanos para o setor, e prevê a articulação dos ministérios da Integração Nacional e do Desenvolvimento Agrário (MDA) para assistência técnica rural a agricultores irrigantes.

Palestras 

O engenheiro agrônomo espanhol e diretor técnico do grupo AZUD, Jose María Buitrago López, abriu o ciclo de palestras do evento com o tema “Irrigação subterrânea, generalidades, vantagens e aplicações”, na qual debateu questões sobre fertirrigação; irrigação por gotejamento e as formas e se aplicar; eficiência do solo; fertilizantes; adequação da qualidade da água: filtração; e vantagens dos sistemas.

“A irrigação subterrânea, entre outras coisas, reduz o volume de água e requer um controle preciso, distinto do habitual. A importância deste tipo de irrigação é propiciar a extensão e o uso do sistema irrigável enquanto uma alternativa ecológica, econômica e agronômica”, disse Buitrago.

Heder Pimentel Gomes, engenheiro civil, doutor em irrigação e coordenador do Laboratório de Eficiências Energéticas da Universidade Federal da Paraíba, abordou a “Eficiência energética nas áreas de saneamento e irrigação”. Na palestra foi discutida a eficiência dos sistemas de bombeamento e geração hidráulica, consumo de energia no saneamento e consumo de energia pelos equipamentos utilizados na irrigação, soluções hidráulicas, entre outros assuntos.

“Comecei a trabalhar com eficiência energética na irrigação quando fiz meu doutorado em 1990. Meu trabalho de doutorado foi voltado indiretamente à eficiência energética, porque era o desenvolvimento de um método de dimensionamento de sistemas pressurizados de irrigação onde se levava em conta não somente a otimização da escolha das tubulações como a altura manométrica de pressurização que proporcionasse um custo mínimo de investimento e de energia ao longo da vida útil do projeto”, esclareceu Gomes.

O engenheiro agrícola Sérgio Agrela, da empresa Irri System S.A., sediada em Montevidéu, com mais de 27 anos de atividades na área de irrigação, ministrou a palestra com tema voltado à projeção da irrigação em áreas determinadas, com o máximo de aproveitamento de água utilizada.

Os direitos e deveres do engenheiro agrícola foram discutidos no evento, com a palestra do representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Urbano Lins. Na programação, foram incluídos temas como filtração central em projetos de infraestrutura para irrigação, elaboração de projetos agropecuários, e engenharia de avaliação por interferência estatística como prestação de serviços pelo engenheiro agrícola.

O III Workshop em Irrigação e IV Simpósio de Engenharia Agrícola também contou com palestras mais específicas sobre equipamentos e o uso racional desses elementos por meio de técnicas já testadas e difundidas em todo o mundo, como a fertirrigação, uso de válvulas para irrigação e parâmetros para dimensionamento de sistemas localizados. Foram apresentadas ainda experiências sobre agroecologia ambiental, pelo engenheiro da Codevasf, Isaac Pequeno, e pela consultora Rosemary Mattos, da Apis Consultoria, Assessoria e Projetos.

O estudante de agronomia Carlos Augusto Menezes, natural de João Pessoa (PB) disse que a participação no evento abriu novos horizontes sobre o uso adequado da irrigação, e os métodos mais racionais para aproveitamento do solo e da água. “O que me impressionou é que há a consciência de que a água não é um bem infinito, e devemos usar esse recurso de maneira racional. Outra coisa interessante foi sobre o uso adequado dos equipamentos: aqui no Nordeste um dos grandes problemas na irrigação é também a salinização do solo, com o uso inadequado de sistemas que hoje já são considerados ultrapassados, como a irrigação por sulcos".

Para o técnico agrícola Jorge Antunes, de Petrolina (PE), o evento “foi muito bem-vindo, pois trouxe para o interior o conhecimento que só é obtido em grandes centros e até em outros países”. “Somos de uma região onde a irrigação está presente em grande escala, então, temos que saber utilizar esse recurso, sem agredir o meio ambiente, de forma racional e consciente, pois as próximas gerações dependem de nós para ter um futuro melhor”, disse

Perímetros irrigados

A parceria entre a 6ª Superintendência Regional da Codevasf, sediada em Juazeiro (BA), e o IF Sertão Pernambucano, e outras instituições nacionais e internacionais, é resultado de um esforço contínuo de melhoria e sistematização dos métodos utilizados para a irrigação no Vale do São Francisco.

A Codevasf mantém 26 perímetros irrigados implantados na bacia hidrográfica do rio São Francisco, que alcançaram R$ 1,72 bilhão em valor bruto de produção (VBP) em 2013 – um crescimento real de 14% em relação a 2012, quando o VBP registrado foi de R$ 1,5 bilhão. Na região Norte da Bahia, área de atuação da 6ª Superintendência Regional, são oito áreas irrigadas: os perímetros de irrigação Curaçá, Mandacaru, Maniçoba, Glória, Pedra Branca, Rodelas, Tourão e, recentemente, Salitre.

Na área do Mandacaru, a empresa implantou em 2011 um projeto de modernização do sistema de irrigação, que passou de irrigação por gravidade para pressurizado com gotejamento. Forma investidos recursos federais da ordem de R$ 3,2 milhões, oriundos de um convênio entre a Codevasf e o Distrito de Irrigação Mandacaru.

O novo sistema, que será difundido pela Codevasf para os demais perímetros, permite uma economia de cerca de 53% do total de água utilizado remotamente pela irrigação por meio de sulcos. Os benefícios para o meio ambiente também são destaques desse sistema, e trouxeram o reconhecimento não só dos irrigantes, mas também de empresas ligadas à preservação ambiental, como a Ecolmeia, sediada em São Bernardo do Campo (SP).

A ideia está chegando ao perímetro de Maniçoba, que hoje conta com aproximadamente 60% da área empresarial trabalhando com esse sistema modernizado, com microaspersão e gotejamento. Segundo dados do Distrito de Irrigação, Maniçoba arrecada por ano cerca de R$ 4,5 milhões com a exportação de uva e manga para o comércio americano, japonês e europeu.

Ascom Codevasf

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