DIRETOR DO HOSPITAL DE JAGUARARI ENVIA NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE O CASO ELOÁ KAMILY‏

Foto : Hospital de Jaguarari

NOTA DE ESCLARECIMENTO: CASO ELOÁ KAMILY

Senhor Hamilton Santos, demais familiares e comunidade de Jaguarari!

A equipe do Hospital Municipal de Jaguarari é solidária com o sofrimento da família pela perda da pequena Eloá.

Sou médico, Diretor Clínico desta unidade, pai de um filho pequeno, já dei assistência a sua filha em outras situações como médico na Estratégia Saúde da Família de Santa Rosa de Lima, sei que não consigo imaginar o tamanho da sua dor e até entendo o seu sentimento e revolta em querer culpar e responsabilizar alguém pela morte de sua filhinha. No entanto, entendo que faz muitas acusações inverídicas, possivelmente orientado por pessoa(s) de má fé, já que moras em São Paulo. Espero que você prove as acusações e denuncias caluniosas, cito: todos os casos de negligência médica, todos os óbitos por negligência médica, as mortes por fraturas expostas por falta de atendimento, as mulheres liberadas pra residência com bolsa rota “estourada”, todos os casos de medicações prescritas erradas, e finalmente prove judicialmente todas acusações que fizestes sobre o médico plantonista que deu assistência a pequena Eloá em Jaguarari.

O caso de sua filha, em que pese todas as acusações que fizestes ao município e aos médicos, teve assistência em todos os momentos, inicialmente em Santa Rosa de Lima no dia 30, quando procurou a unidade por apresentar febre, lá ela foi medicada com antitérmico oral pela enfermeira e posteriormente encaminhada para consulta médica no hospital em carro locado pela prefeitura de Jaguarari, no hospital foi atendida pelo primeiro médico (plantonista do dia 30), onde foi medicada e ficou em observação por algumas horas, sendo liberada em bom estado geral com prescrição médica e orientações; no dia 31 a avó materna procurou uma funcionária do Posto de Santa Rosa de Lima por volta das 05:00h referindo que a criança não tinha melhora, quando perguntado se a criança estava sendo medicada referiu que não, a funcionária orientou que procurasse um dos carros (02) locados pela prefeitura e que conduzisse a criança novamente para Jaguarari, o que não foi feito, pois a família preferiu levar para Pilar que não é a referência para os moradores de Santa Rosa de Lima; em Pilar foi atendida pelo segundo médico (plantonista da Policlínica) e já se encontrava em estado muito grave, o plantonista devido o estado de gravidade prestou assistência, solicitou avaliação com pediatra, ligou para o plantonista do Hospital Municipal de Jaguarari e para o Médico Regulador da Central de Regulação Interestadual de Leitos Pernambuco – Bahia em Juazeiro (CRIL); às 10:52h a criança deu entrada no hospital de Jaguarari conduzida pelo SAMU (Ambulância básica), foi então atendida pelo terceiro médico (plantonista do dia 31), estava em estado muito grave, realmente não foi possível manter acesso venoso, o médico solicitou a regulação e novamente entrou em contato com o SAMU solicitando a transferência em UTI Móvel, ocorreu agravamento do quadro, uma parada cardiorrespiratória, sendo iniciada a reanimação e uso de adrenalina; e lamentavelmente o óbito por volta das 14:00h. Indiretamente, Eloá ainda recebeu assistência dos médicos reguladores no SAMU e na Central de Regulação Interestadual de Leitos Pernambuco – Bahia (CRIL).

A transferência de um paciente de Jaguarari e dos municípios da microrregião de Senhor do Bonfim é realizada pelo Sistema Nacional de Regulação do Ministério da Saúde (SISREG III) e na nossa região efetivada pela CRIL, não é norma do município e sim regulamentada pelo Ministério da Saúde, obedece protocolos que inclui de forma resumida: cadastro do paciente, descrição de todo quadro clínico e conduta médica e envio via internet; na CRIL a solicitação é avaliada pelo médico regulador que então liga para os hospitais onde há vagas disponíveis, passa o caso para o plantonista e se autorizado reserva a vaga para o paciente, caso não tenha vaga é tentado um outro hospital e assim sucessivamente, quando consegue a vaga o médico regulador autoriza a transferência no Sistema Nacional de Regulação on-line (SISREG III), após autorização o relatório é impresso no hospital de origem, caso necessite o SAMU, o médico de Jaguarari liga para o SAMU passa o caso para o médico regulador do SAMU, este verifica todos os passos inclusive a confirmação da vaga no hospital de destino do paciente e então libera a ambulância, que no caso de Eloá pela gravidade foi solicitado UTI Móvel do SAMU. Fiz esta descrição para que vocês leitores percebam que não é um processo rápido e envolve um sistema regulamentado pelo Ministério da Saúde.

Em Jaguarari temos pessoas humildes como em qualquer parte do país, mas as pessoas sabem e defendem seus direitos, são pessoas de boa índole, caráter, acolhedoras e que reconhecem o nosso trabalho como médico, bem como dos nossos gestores.

Sabemos que o município, o Sistema Único de Saúde e o Hospital de Jaguarari têm seus problemas, mas não é denegrindo e agredindo as pessoas que vamos resolver os problemas. O hospital que parece não ter nenhum valor pra você, ele é composto por pessoas, a nossa equipe inclui médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, técnicos de RX, recepcionistas, cozinheiras, farmacêutica, vigias, motoristas, administradores, entre outros, são estas pessoas que dedicam a vida para ajudar o próximo, aliviar a dor, aliviar o sofrimento, limpar o sangue e o pús, ficar ao lado no último instante, lamentar a perda e muitas vezes choramos juntos ou mesmo não conseguimos dormir pensando na dor da perda de alguém que às vezes acabamos de conhecer, vibramos quando conseguimos salvar vidas e salvamos, escutamos o primeiro choro da criança que acaba de nascer, observamos o sorriso da pessoa que teve aliviada a sua dor, e muitos são gratos e são estes que alimentam a nossa alma, nosso espirito e tornam a nossa jornada menos árdua, nós que levantamos no meio da noite, na madrugada fria, nos dias de festas, nos sábados, domingos e feriados, ainda somos acusados de faltar com empenho e dedicação.

 A maioria dos médicos da região evitam trabalhar em Jaguarari devido pessoas como você Hamilton e seus orientadores, que instigam a população contra os médicos, todos os médicos que trabalham nesta unidade são graduados em medicina e com inscrição no Conselho Regional de Medicina da Bahia e portanto legalmente habilitados. isto foi diferente em outras gestões, pelo menos em Santa Rosa de Lima, onde por vários anos não-médicos atendiam aquela população. A você e seus orientadores que nos acusa de falta de empenho e dedicação, somos um grupo pequeno, mas temos dois que fazem pós-graduação em cardiologia, um pós-graduado em dermatologia, um pós-graduado em medicina intensiva e não trabalhamos apenas em Jaguarari, nossos colegas trabalham em outros hospitais (em Salvador, Fortaleza, Juazeiro, Senhor do Bonfim, etc).

No Hospital de Jaguarari atendemos em média 90 pessoas por dia, internamos uma média de 110 pacientes por mês, fazemos partos quase diariamente, não temos nenhum caso de morte materna ou fetal nos últimos anos; são inúmeras as transferências na ambulância do hospital, no SAMU e muitas vezes na UTI. Quem precisa do nosso hospital sabe que somos sim dedicados, temos empenho, fazemos o melhor com o que temos, mas aqui como em qualquer outro hospital ocorre óbitos, casos complexos sem possibilidade terapêutica ou que chegam tardiamente na hospital muitas vezes por desconhecimento da gravidade e ou negligência da família (crianças e idosos) e que nós também gostaríamos que fossem investigada a causa mortis.

Você não tem obrigação de saber, mas os que estão lhe orientando e que pretendem representar o povo, deveriam sim, conhecer melhor o nosso serviço e o próprio SUS. O Ministério da Saúde por meio da Portaria 1.405 DE 29 DE JUNHO DE 2006 institui a Rede Nacional de Serviços de Verificação de Óbito e Esclarecimento da Causa Mortis (SVO), o estado da Bahia deveria ter 05 SVO (Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Juazeiro e Teixeira de Freitas). Você conhece algum SVO na Bahia?  Pois é, Ainda não existe. O próprio médico plantonista me ligou naquela data, pois não queria emitir a Declaração de Óbito, perguntei se havia suspeita de crime ou causas externas (por exemplo envenenamento), caso houvesse ele deveria comunicar a Policia Civil, assim como a família e os que hoje lhe orientam deveriam ter formalizado uma queixa naquela data, já que você e eles têm a certeza da Causa Mortis, e neste caso o corpo teria sido encaminhado para necrópsia no Instituto Médico Legal (IML). E assim, poderíamos ter evitado uma possível exumação cadavérica da pequena Eloá.

Prometo que ao exercer a arte de curar,
Mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
Da caridade e da ciência.

Penetrando no interior dos lares,
Meus olhos serão cegos,
Minha língua calará aos segredos que me forem revelados,
Os quais terei como preceito de honra.

Nunca me servirei da profissão para corromper
os costumes,  Ou favorecer o crime.

Se eu cumprir esse juramento com fidelidade,
Goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte,
De boa reputação entre os homens.
Se os infringir ou deles me afastar,
suceda-me o contrário.

José Alberto Veloso

Médico – CREMEB 20.977

Diretor Clínico do Hospital Municipal de Jaguarari